Saúde
Com alto custo e difícil acesso, tratamento à base de canabidiol tem obtido resultados positivos em humanos e animais
Apesar dos estudos estarem avançados acerca dos resultados obtidos com o uso de fármacos à base de canabidiol, muitas famílias esbarram na grande dificuldade de conseguir comprar a medicação.
06/12/2021 às 07h53, Por Andrea Trindade
Laiane Cruz
Diagnosticada aos cinco anos de idade com epilepsia, Thayne Vitória, de 11 anos, realiza desde fevereiro do ano passado o tratamento com medicamento à base de canabidiol, uma substância derivada da planta cannabis sativa, popularmente conhecida como maconha.
Em entrevista ao Acorda Cidade, a mãe de Thayne, a dona de casa Talita da Conceição Ribeiro, relatou que após pesquisar sobre o uso do canabidiol no tratamento da epilepsia e crises convulsivas, conversou com o médico que acompanhava a filha, e foi prescrito o tratamento por um período de teste, que apresentou um bom resultado.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
No início, a família se virou como pôde para conseguir comprar o medicamento via importação, algo que só foi possível mediante a liberação da Anvisa. Cada frasco custa entre R$ 2 mil a R$ 2.500 e a garota precisava utilizar dois frascos por mês. Para custear o canabidiol, os pais recorreram a vaquinhas virtuais, ajuda de amigos, rifas, doações de igrejas e empréstimos bancários.
“Thayne foi diagnosticada com epilepsia aos cincos anos e desde então fomos usando as medicações mais comuns para a doença. Foram diversas medicações e não houve êxito no controle das crises. Com 9 anos quando ela entrou em mal convulsivo que a gente descobriu que ela tem epilepsia refratária, e então começou a luta. Fui pesquisar a respeito do canabidiol na época, que ainda não era legalizado no Brasil, nem para importação. Então o médico ficou receoso de passar o canabidiol e havia a dificuldade de conseguir essa medicação. Foi aí que o governo autorizou a importação para fins medicinais. Conseguimos importar para fazer o teste porque o médico não tinha ainda a certeza que iria controlar as crises. Ela começou o tratamento no ano passado, em fevereiro, em junho eu vi que realmente o medicamento faz efeito, controlou as crises e minha filha melhorou. Entrei com um processo contra o estado para ele estar custeando essa medicação”, informou Talita Ribeiro.
Não foi fácil conseguir que o estado fornecesse o medicamento para Thayne. A família precisou travar uma longa batalha desde junho do ano passado, e o resultado da ação só veio a sair em outubro.
“Esse processo correu o ano passado e esse ano fez um ano em junho, e graças a Deus esse mês o estado mandou o valor da medicação, porque eles viram que não é fácil importar a medicação. Tem todo um processo, e eles me mandaram o valor para seis meses. E daqui a seis meses, eu tenho que fazer um novo relatório para eles avaliarem se Thayne tem ainda a necessidade de usar essa medicação, que para o tratamento dela é fundamental. O canabidiol dá à minha filha uma condição de vida melhor, e o médico chegou a dizer que se tirar essa medicação ela corre o risco de morte súbita, devido à quantidade de crises convulsivas que ela pode ter”, contou Talita ao Acorda Cidade.
Tratamento caro
Apesar dos estudos estarem avançados acerca dos resultados obtidos com o uso de fármacos à base de canabidiol, muitas famílias, assim como a de Thayne Vitória, esbarram na grande dificuldade de conseguir comprar a medicação, devido ao alto custo, como também obter a autorização judicial para que o estado forneça.
Por outro lado, pacientes que conseguem ter acesso ao tratamento apresentam uma melhora significativa nos quadros neurológicos e cada vez mais médicos têm adotado a substância como alternativa, sobretudo nos casos mais graves.
Dr. Paulo Varjão | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
O neuropediatra Paulo Varjão, explicou em entrevista ao Acorda Cidade, que o canabidiol é extraído da planta cannabis sativa, é sintetizado e colocado em um veículo, como um óleo, que posteriormente é ingerido, e há também os sprays. Esses medicamentos têm o poder de melhorar algumas patologias, como a epilepsia, o autismo e outras doenças que ainda estão em estudo.
“O público que mais utiliza esse medicamento é aquele acometido por epilepsias de difícil controle, pacientes com autismo, e hoje já existem estudos para utilizá-lo no combate à ansiedade, a fibromialgia, com um avanço muito grande para utilização mundial. Na minha experiência pessoal, tenho tido bons resultados. Existe um mito de que ele é infalível, o que não é verdade, porém é um excelente remédio”, afirmou o especialista.
O neuropediatra que ainda é preciso avançar no uso do canabidiol com a quebra do preconceito acerca da substância.
“Existe um histórico do uso recreativo com alguns efeitos que não eram bons, principalmente dificuldades pelas pessoas que a utilizavam em seu desenvolvimento pessoal, e como o tempo de estudo não é tão grande assim, ainda se tem um certo cuidado para que a utilização seja um pouco restrita, principalmente naqueles casos que não se consegue controlar com outras medicações. Esse medicamento já existe na farmácia normal. O paciente estando com a receita médica pode ir comprar uma marca que é liberada pela Anvisa. Boa parte dos outros que são utilizados é importada e existem outras medicações que são feitas de forma mais artesanal, com as quais tem que haver um certo cuidado com a dosagem, que pode ser algo terrível se mal utilizada. Mas como o custo é muito alto, tanto o da farmácia como o importado, você precisa às vezes recorrer à Justiça para que o governo forneça para a mãe ou o pai do paciente. O custo é muito alto”, esclareceu o médico.
Paulo Varjão destacou que o tratamento com canabidiol é utilizado hoje em duas frentes principais, que são as epilepsias refratárias e os casos de autismo.
“Nas epilepsias refratárias, o índice de melhora é muito grande. No autismo, há uma melhora grande na hiperatividade e alguns casos que têm agressividade. Mas existe hoje a segurança de que esse paciente geralmente melhora. O tratamento é indeterminado, porque como toda doença crônica se tem as idas e vindas e também de sintomatologia. É um tratamento que já vem sendo utilizado há muitos anos em pacientes com síndrome de dravet, que é uma síndrome genética muito complicada, que traz atraso intelectual e dava também convulsões de difícil controle e hoje está se usando em várias outras coisas. Ultimamente tem sido facilitado o tratamento com a colocação do remédio na farmácia e a possibilidade de importação. O índice de médicos hoje no Brasil que utilizam é muito grande e em outros países também.”
Uso em animais
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
Outra possibilidade para o uso do canabidiol é no tratamento de doenças em cães e gatos. Em Feira de Santana, o médico veterinário Breno Estrela, especializado em uso da cannabis em cães e gatos, utiliza a substância em seus pacientes e também tem comemorado os resultados.
“Já tem cerca de 12 anos que o doutor Pet Cannabis, onde eu fiz o curso, começou a utilizar, com base em estudos nos Estados Unidos e em outros países, e assim ele foi o pioneiro da medicina canábica em cães e gatos. A matéria-prima é a mesma, retirada da planta, da qual é extraída para usos medicinais e aí é utilizado o azeite de oliva ou então o óleo de girassol para compor a cannabis.”
Ele explicou ao Acorda Cidade, que assim como em humanos, o canabidiol é utilizado para tratar alterações neurológicas nos animais, pets em estados terminais, como câncer, entre outros casos. Um caso comum são alterações neurológicas causadas pela cinomose canina, que é infectocontagiosa e atinge canídeos não vacinados.
“O uso dessa substância consegue reduzir os quadros de convulsões. Os médicos veterinários capacitados na prescrição canábica fazem o uso da prescrição e o tutor vai em busca de associações legalizadas pela Anvisa, para adquirir o óleo de acordo com a prescrição médica. A gente tem uma rotatividade muito grande aqui na clínica, justamente por ser um trabalho pioneiro na cidade, junto com a doutora Fernanda Marques. A gente tem feito esse trabalho e desconstruindo o preconceito gerado pelo uso da maconha. Todo o nosso trabalho possui fins medicinais e visa o bem-estar do paciente”, ressaltou.
Também nos animais, a duração do tratamento varia de caso a caso. É preciso avaliar a sintomatologia dos pacientes, com alterações neurológicas em sua grande maioria. Conforme Breno Estrela, o medicamento é de uso contínuo, mas não causa dependência.
Veterinário Breno Estela | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
“A gente consegue retardar e não deixa o paciente dependente do uso. Pacientes cardiopatas, a gente sempre tem que fazer um acompanhamento com cardiologista anteriormente, pacientes que têm crises convulsivas agudas, a gente tem que estar associando com outras drogas, outros medicamentos associados. Mas, é uma avaliação muito boa, a gente tem tido resultados muito favoráveis. O Conselho Federal de Medicina Veterinária tem nos ajudado em busca de alternativas, para que a gente consiga ter essa liberação do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e consiga prescrever dentro da lei. Hoje a gente trabalha dentro da falta de regulamentação do uso da cannabis. O Brasil está atrasado na prescrição canábica, em comparação com outros países desenvolvidos. Mas a gente tem avançado muito, principalmente pelos resultados positivos, pois a medicina tradicional não tem tido resultados.”
O Cirurgião Bucomaxilofacial, Thiago Freitas Leite, membro da sociedade Brasileira de Disfunção Temporomandibular e dor orofacial, também é defensor do tratamento da dor com uso do canabidiol.
De acordo com ele, em sua área de atuação, os estudos estão evoluindo muito, no intuito de melhorar a qualidade de vida dos pacientes que apresentam dores crônicas.
“Para disfunção temporomandibular e dor orofacial tem sido amplamente pesquisado em todo o mundo e acredito que o uso do canabidiol vai aumentar bastante nas próximas décadas. Acredito que a questão do canabidiol o problema hoje é muito mais de comunicação e preconceito, do que de ciência, porque os estudos estão evoluindo bastante e comprovam sua eficácia. O que mais trava hoje é a questão do preconceito, porque as pessoas associam o medicamento com o uso recreativo da cannabis sativa, popularmente conhecida como maconha.”
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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