#soudoadordeórgãos

Advogada retoma rotina após transplante e incentiva a doação de órgãos

Baixo número de doadores e desconhecimento familiar dificultam a doação de órgãos. Nesta quarta-feira (27), dia em que se celebra o Dia Nacional da Doação de Órgãos, existem 32 mil pessoas no Brasil à espera de um transplante.

27/09/2017 às 15h21, Por Kaio Vinícius

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Laiane Cruz

Hoje a advogada Daniela Fróes da Mota viaja, trabalha e vive uma vida normal, como a de qualquer pessoa saudável. Mas, nem sempre foi assim. Durante 10 anos, a profissional teve que realizar sessões de hemodiálise para tratar um problema renal e, no dia 13 de agosto de 2011, após dois anos na fila de espera da doação de órgãos e 11 testes de compatibilidade, conseguiu um transplante de rim.

“Eu tive que ir para Salvador para conseguir entrar na fila. Esperei dois anos e meio em prioridade, porque eu tive dificuldade. Cheguei em estado grave: ou transplantava ou morria”, contou Daniela, na manhã desta quarta-feira (27), em entrevista ao Acorda Cidade.

Ela revelou que tudo começou quando iniciou uma dieta e um médico lhe passou uma fórmula para emagrecer. A partir daí, a advogada desencadeou o lúpus, uma doença autoimune que compromete os órgãos do corpo, principalmente o rim.

Segundo Daniela, durante o tempo em que permaneceu no topo da fila de doação, como prioridade, passaram por ela 10 órgãos, todos imcompatíveis, até que antes de realizar uma viajem para São Paulo, o décimo primeiro apareceu, compatível, e finalmente ela pôde receber o rim. Ela afirma ainda que mesmo com a insuficiência renal entrou para a faculdade de Direito, e apesar das dificuldades e o tempo em que precisou se afastar dos estudos, conseguiu finalizar o curso.

“Passei 8 anos, mas consegui me formar. Advogo já há quase dois anos e estudo para concursos. Minha vida hoje é normal, mas ainda tomo medicação, não fumo, não bebo, evito certos ambientes de contaminação. Mas viajo, passeio, vou à praia, trabalho, como todo mundo”.

Dia Nacional da Doação de Órgãos

Histórias como a da advogada são comuns no dia a dia de quem trabalha para salvar a vida dos pacientes. E nesta quarta-feira (27), dia em que se celebra o Dia Nacional da Doação de Órgãos, existem 32 mil pessoas no Brasil à espera de um transplante.

A nefrologista e coordenadora do setor de transplante de rins do Hospital Dom Pedro de Alcântara, Fernanda Pita, afirma que, infelizmente existe uma desproporção entre os pacientes que precisam de um órgão para transplantar e o número de doadores verdadeiros ou efetivos, e a principal causa disso ainda hoje no Brasil é a negativa familiar.

“Existe muita desinformação do processo da doação e do próprio diagnóstico de morte encefálica. As pessoas não acreditam, na maioria das vezes, que a pessoa está morta. Mas existe um protocolo. Então nada é feito de forma aleatória para que a transparência do processo seja 100%”, ressaltou a nefrologista.

Ela destaca que a educação se faz fundamental para todos os processos da saúde. E o Dia de Conscientização da Doação vem para chamar a atenção da população sobre o quanto isso é importante e o quanto isso traz benefício para a sociedade. Ainda de acordo com Fernanda Pita, existe um tempo de espera e isso depende muito do órgão que o paciente necessita e o estado onde reside.

“Em São Paulo é um tempo médio de um ano para o transplante de rim e pâncreas. Córnea, em São Paulo, a fila é zero. Ao contrário da Bahia, que ainda tem um ano de espera para o transplante de córnea. A gente tem uma das maiores esperas do Brasil pra córnea, que praticamente não tem internação e são 48 horas dentro do hospital. A Bahia tem um tempo de espera grande pelo número baixo de doadores e o tamanho da nossa população. Para coração e fígado, em São Paulo, a demora ainda é alta, de mais de um ano. E é uma situação mais grave porque não tem a diálise. O rim tem a diálise, que é um tratamento alternativo. Mas o fígado, coração e o pulmão as pessoas morrem”, detalhou.

Qualidade de Vida

Conforme a nefrologista, o transplante hoje é a primeira escolha de tratamento para todas as doenças crônicas, como doenças renais, do fígado, coração e pulmão, pois quando o paciente chega em um estágio mais avançado há a indicação do transplante, que tem por objetivo devolver a função do órgão comprometido.

“A pessoa volta a ter qualidade de vida, a se inserir na sociedade de forma plena. E no caso do paciente renal, ele faz uma terapia de substituição renal, que demanda dele doze horas dentro de uma clínica, várias intercorrências, internações, e tudo isso desaparece após o transplante.”

Sobre o que pode lesionar os rins, a médica aponta o excesso de sal e açúcar na alimentação, o que pode levar à diabetes e hipertensão. “Infelizmente esse rim vai perdendo a função e ele vai necessitar da diálise. O sal, açúcar, os refrigerantes também causam a obesidade. Quanto às proteínas, o problema está nas dietas hiperprotéicas, associado ao uso de anabolizantes e suplementes em excesso de proteínas”.

Fernanda Pita reforçou também a necessidade de as pessoas interessadas em fazer doação de órgãos de conversar com a família, pois em muitos casos o desconhecimento sobre o desejo do paciente após a morte impede a doação. “A legislação brasileira prevê que quando uma pessoa é declarada morta apenas parentes em primeiro grau ou cônjuge podem autorizar a doação de órgãos”.

A nefrologista, que por sete anos trabalhou no Hospital do Rim, em São Paulo, onde se fazem mil transplantes por ano, revelou que veio para Feira de Santana a convite de uma equipe de urologistas para montar um serviço de transplante no município. “O transplante retornou ao cenário de Feira em agosto de 2015 e até hoje já fizemos 68 transplantes de rim. A média é de 3 a 4 por mês”. 

#soudoadordeórgãos

Com noção plena do drama que os 32 mil brasileiros que aguardam doação de órgãos na fila do transplante vivem, a advogada Daniela faz um apelo: "Convido às pessoas nas redes sociais para colocar a hashtag #soudoadordeórgãos, para que as pessoas do seu convívio saibam. Vamos dizer ao Brasil que somos doadores de órgãos e conversar em casa com a família. Convido a população de Feira pra dizer esse sim. Quero ver o Facebook verde com a hashtag #soudoadordeórgaos".

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