Esportes
Atlético tem lucro pela primeira vez em 23 anos
Clube fatura R$ 316,3 milhões em 2016 e fecha o ano com saldo positivo; com dívidas renegociadas e forte investimento no futebol, expectativa é de crescimento sustentável nos próximos anos
23/04/2017 às 09h20, Por Andrea Trindade
Acorda Cidade
Pela primeira vez em 23 anos, o Atlético Mineiro tem lucro em suas contas. O balanço de 2016, publicado neste domingo (23), apresenta superávit de R$ 2,1 milhões. Em 2015, com parte da dívida indexada ao dólar e à Selic, o déficit foi de R$ 11,9 milhões. De acordo com o presidente do clube, Daniel Nepomuceno, o resultado é fruto de um esforço de austeridade fiscal da diretoria, que projeta um crescimento sustentável nos próximos anos graças a uma série de medidas envolvendo o futebol profissional.
Em 2016, o faturamento foi de R$ 316, 3 milhões, apresentando crescimento de 29,3% na comparação com 2015, quando o clube arrecadou R$ 244,6 milhões. As principais fontes de receita foram a venda dos direitos de transmissão, a bilheteria, os patrocínios e a cessão de direitos econômicos de atletas. A TV (aberta e fechada) respondeu por 40,7% do faturamento, totalizando R$ 128,9 milhões. O crescimento em relação a 2015 foi de 13,3%. Naquele ano, o clube arrecadou R$ 113,7 milhões nesta fonte.
O crescimento da carteira de sócios torcedores Galo na Veia e bilheteria foi de 24% e representou R$ 47 milhões da receita de 2016. Esse valor corresponde a 14,8% do faturamento do ano passado. Em 2015, a receita proveniente da renda dos jogos havia sido de R$ 37,9 milhões.
Também houve crescimento do valor dos patrocínios. Em 2015, o Atlético ganhou R$ 16,3 milhões com a venda de espaço nos uniformes e placas de publicidade. Com expansão de 93,8%, o clube recebeu R$ 31,6 milhões neste item em 2016, o que representou 10% das receitas.
O maior crescimento percentual ocorreu com a cessão de direitos econômicos. A receita total em 2016 foi de R$ 78,5 milhões, o que representou 24,8% do total arrecadado. Em 2015, o Atlético havia faturado R$ 35,6 milhões nesse quesito.
Daniel Nepomuceno observa que o Atlético viveu um dilema no início da década. “A dívida crescia desordenadamente”, recorda. “Ou enfrentávamos esse problema, ou estaríamos fadados a desaparecer ou nos tornar um clube menor”. A opção foi chamar os credores e renegociar as dívidas, reservando parte das receitas para quitar o passivo. A entrada em vigor da Lei 13.155/15, que deu origem ao Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (Profut), veio ao encontro dessa meta.
O Atlético foi o primeiro clube brasileiro a aderir ao Profut, que estabeleceu regras para o refinanciamento das dívidas fiscais e trabalhistas dos clubes de futebol profissional, e vem cumprindo seus compromissos regularmente. Dessa forma, organizou as finanças e se preparou para o futuro. Em 2016, as dívidas totais somavam R$ 518,7 milhões, um crescimento de 4,58% em relação a 2015 (R$ 496 milhões). O índice permaneceu abaixo da taxa Selic, que foi de 14% em 2016.
Desse montante, o Profut absorveu 54,4% e dívidas com terceiros responderam por 21,4%. Débitos com bancos tomaram 10,7% e negociações e intermediações com outros clubes responderam por 13,5%.
O débito com o Profut correspondeu a R$ 284 milhões em 2016. Recursos bloqueados da ordem de R$ 56,6 milhões serão usados para amortizar a dívida, deixando um saldo de R$ 227,4 milhões.
A relação entre receita e dívida vem caindo ano a ano. Em 2006, por exemplo, a receita foi de R$ 50,3 milhões e as dívidas eram de R$ 187,1 milhões, ou 3,71 vezes maior. Em 2011, o clube arrecadou R$ 99,8 milhões e a dívida era de R$ 367,6 milhões (3,68 vezes maior). Em 2015, o clube faturou R$ 244,6 milhões e devia R$ 496 milhões (2,02). Já em 2016, o débito chegou a R$ 518,7 milhões, para receita de R$ 316,3 milhões. A relação caiu para 1,64 e a tendência é de queda contínua.
Investimento no negócio do clube
Fundado em 25 de março de 1908, o Atlético é um dos clubes mais tradicionais do Brasil. Quarto colocado no último Campeonato Brasileiro, vem de uma série de conquistas importantes, como a Copa Libertadores, em 2013, e a Recopa Sul-Americana e a Copa do Brasil, em 2014. O ciclo virtuoso teve início durante a gestão do ex-presidente Alexandre Kalil (2008-2014), ganhando novo impulso sob a presidência de Daniel Diniz Nepomuceno, eleito em dezembro de 2014.
A gestão de Nepomuceno vem se caracterizando pelo forte investimento no futebol, com a montagem de um elenco qualificado, paralelamente à estruturação administrativa e financeira. Ao mesmo tempo em que consegue elevar as receitas anuais, a diretoria trabalha em outras frentes para equacionar a situação fiscal do clube.
Daniel Nepomuceno destaca que sua gestão deu prioridade absoluta ao futebol. “Esse é o nosso core business e, como tal, recebe toda atenção da administração”, diz. As perspectivas para 2017 são de crescimento contínuo, observa. Um dos motivos do otimismo é o crescimento da base de sócios torcedores, com previsão de fechar 2017 com mais de 80 mil associados ao Galo na Veia.
O elenco de atletas profissionais é um dos mais qualificados do Brasil. “Bons times ganham títulos, atraem torcedores e patrocinadores e vendem direitos de transmissão”, destaca. Este ano, o clube participa pela quinta vez consecutiva da Copa Libertadores da América, principal competição esportiva das Américas. Para 2017, o clube trabalha com a formação de uma equipe Sub-23 e a venda de direitos de transmissão de jogos para a China, de acordo com o fuso horário local. Outra meta é a construção de estádio próprio.
Cidade do Galo
Um dos principais investimentos do clube é na Cidade do Galo, centro de treinamentos localizado no município de Vespasiano, a 28 quilômetros de Belo Horizonte. O espaço, com 225.000m² e 5.850m² de área construída, conta com cinco campos de tamanho oficial, hotel com 20 suítes, sala de jogos, restaurante, auditório, deck panorâmico e cozinha industrial; moderna sala de fisiologia, departamento médico e odontológico, vestiários climatizados com banheiras de hidromassagem, moderna academia, piscina aquecida, tanque de gelo, campo de futebol soçaite e lavanderia.
A Cidade do Galo hospedou a seleção da Argentina durante a Copa do Mundo de 2014 e também na preparação para o jogo contra o Brasil, no Mineirão, em novembro de 2016, pelas Eliminatórias da Copa de 2018. A Associação do Futebol Argentino (AFA) chamou o CT alvinegro de “Casa dos Sonhos”.
Em maio de 2010, a Cidade do Galo foi qualificada como o melhor centro de treinamentos do Brasil, em estudo realizado pelo canal SporTV, em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV). Na pesquisa, foram avaliados mais de 400 itens, divididos em quatro áreas: recursos humanos, instalações físicas, recursos materiais e logística.
A emissora europeia Eurosport selecionou a Cidade do Galo entre os cinco melhores centros de treinamento do mundo, ao lado do Cobham Training Centre, do Chelsea, Ciudad Real Madrid, St. George’s Park, da seleção inglesa, e Kirsha Training Centre, do Shakhtar Donetsk. O Atlético tem ainda dois clubes recreativos para seus associados.
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