Economia
Carne Fraca: unidades com 'sinal verde' após auditoria pedem ajuda do governo
A União Europeia pediu que o governo brasileiro restaure a confiança dos consumidores, garantindo a credibilidade e independência dos controles de saúde do país.
04/04/2017 às 06h54, Por Andrea Trindade
Acorda Cidade
Agência Brasil – Duas semanas após serem incluídos na lista dos 21 frigoríficos investigados na Operação Carne Fraca, os estabelecimentos liberados da suspensão temporária temem uma retomada lenta das vendas e pedem que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) atue na publicidade de que as auditorias foram feitas regularmente. Das três unidades cujo “sinal verde” foi dado pelo governo federal na última sexta-feira (31), uma não é frigorífico.
Trata-se da Breyer & Cia Ltda, que atua no processamento de mel e cera de abelha, tendo como destino da maior parte de sua produção o mercado externo. Segundo o ministério, em tabela na qual detalha as 21 empresas que tiveram suspendido seus registros de exportação, o entreposto de produtos apícolas estava na lista por suspeitas de “corrupção”.
De acordo com o ministério, as três unidades foram liberadas porque durante as auditorias “não foram constatadas irregularidades que pudessem ameaçar a saúde humana ou fraudes econômicas”. “Assim, de 21 estabelecimentos submetidos à inspeção de força-tarefa do Mapa, restam 18, sendo seis interditados com produção interrompida”, informou o órgão.
Estados Unidos, Alemanha, Espanha, Reino Unido, Canadá, França, China e Japão fazem parte da lista dos importadores da Breyer, que fica em União da Vitória (PR) e se considera de pequeno porte. Para Daniel Breyer, o tamanho da companhia foi justamente o que pode ter motivado as investigações. Ele explica que, assim como em pequenos laticínios, o Ministério da Agricultura não tem estrutura para destacar um fiscal agropecuário apenas para esses estabelecimentos. O que faz, segundo Breyer, com que os funcionários da empresa tenham que entrar em contato com os agentes do governo para combinar as inspeções.
“Em um dos diálogos gravados, o fiscal pede por dois frascos de mel porque o dele acabou, mas o fiscal era cliente e paga pelo produto. A Polícia Federal, por certo, entendeu que era um codinome”, justificou Daniel Breyer, alegando danos aos lucros da empresa. Segundo ele, 80 toneladas de mel que deveriam ter sido exportadas há 15 dias ainda não saíram do país.“Houve quebra de contrato por parte de alguns clientes. A gente não consegue mensurar o prejuízo porque não sabemos ainda como será depois da comunicação [de que o estabelecimento está liberado]”.
O diretor administrativo da empresa informa que as autoridades do ministério fizeram uma auditoria nos dias 21 e 22 de março, em que verificaram que a unidade cumpre regularmente os critérios sanitários. De acordo com ele, o comunicado solicitado pela Breyer ao governo brasileiro destinado ao Brasil e ao exterior ainda não foi feito.
“Um dos clientes da França, por exemplo, entrou em contato dizendo que como nós estávamos com exportação suspensa, eles suspenderiam o contrato. Não sabemos se vai retomar. Vai depender da eficiência do governo brasileiro em esclarecer. A comunicação que o governo brasileiro fez ao suspender [a exportação] tem que ser a mesma ao dizer que está tudo OK. Esses esclarecimentos não foram feitos ainda. Não ouvimos repercussões dos clientes de que o país deles recebeu informação no sentido da qualidade do mel”, disse.
Confiança
Na segunda-feira (3), a União Europeia pediu que o governo brasileiro restaure a confiança dos consumidores, garantindo a credibilidade e independência dos controles de saúde do país. Durante uma reunião, os representantes do bloco disseram que querem “mais informações” do Brasil para tranquilizar os consumidores.
João Francisco Monteiro Sampaio, advogado da FrigoSantos, situada em Campo Magro (PR), também pede uma notificação formal de que o estabelecimento está liberado. Apesar de não vender no mercado externo as carnes suínas que produz, Sampaio diz que a produção de aproximadamente 150 toneladas por mês caiu cerca de 70%.
“A produção foi reduzida, alguns clientes suspenderam o pedido. Fizemos pedido no ministério e até hoje não recebemos um documento oficial falando se a gente está ou não na operação”, relata. De acordo com o advogado do frigorífico, a empresa desconhece as razões de ter sido incluída na lista, que, segundo as investigações, seriam “irregularidades em apuração”.
“Prejudicou muito, porque tivemos um dos principais clientes suspendendo pedidos e inclusive recolhendo os nossos produtos. Acho que as autoridades foram infelizes no jeito de colocar-nos naquela lista. Não tinha motivo nenhum para isso”, defende Sampaio. Segundo ele, os mercados que compram a carne do FrigoSantos são localizados no Paraná (em especial, na Região Metropolitana de Curitiba) e em Santa Catarina.
A Agência Brasil buscou contato com o frigorífico Argus, a terceira empresa que teve o registro de exportação liberada, mas não obteve resposta até o fechamento da reportagem. Localizada em São José dos Pinhais, a unidade é investigada pelo suposto “uso de senha de servidor do Mapa pelo funcionário da empresa”.
Nesta segunda-feira, durante evento no interior de Goiás, o ministro Blairo Maggi voltou a defender o caráter técnico das decisões. “Estamos tomando todas as providências e assim que resolver, vamos liberar, mas teremos certeza de que nada vai ficar sem olhar e sem dar um parecer técnico. Não tem nesse momento discussão política para os problemas que aqui se apresentaram. Neste momento, temos que ter posições técnicas”.
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