Bahia
Conselho de Cultura pede apuração de caso de violência contra professor
Durante a abordagem policial, seus pertences foram jogados no chão, e o veículo foi apreendido.
30/11/2015 às 17h39, Por Andrea Trindade
Acorda Cidade
O presidente do Conselho Estadual de Cultura, Márcio Ângelo Ribeiro, enviou nesta segunda-feira (30) uma carta ao secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, solicitando que seja apurado um caso de violência policial contra o professor universitário Nilton de Almeida Araújo, mais conhecido como Niltinho. Ele é conhecido na região de Juazeiro pelo trabalho que desenvolve no Colegiado de Ciências sociais da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf).
De acordo com a denúncia, a agressão aconteceu no sábado (28), quando o professor circulava em sua motocicleta, no bairro do Cruzeiro, na cidade de Juazeiro, em direção ao dentista. Durante a abordagem, seus pertences foram jogados no chão, o veículo foi apreendido e, ao tentar dialogar com os oficiais, ele passou a ser agredido e intimidado até ser colocado em um camburão.
O mesmo documento foi encaminhado ao comando da Polícia Militar da Bahia, à Casa Civil e entidades ligadas aos direitos humanos e atividades docentes.
Leia na íntegra
Salvador, 30 de novembro de 2015;
Prezado Secretário Maurício Barbosa, Secretaria da Segurança Pública (SSP);
No último dia 28 de novembro, a comunidade de Juazeiro foi surpreendida com a violência sofrida pelo professor Nilton de Almeida Araújo, mais conhecido como Niltinho, que foi agredido com um tapa no rosto, algemado e, em seguida, levado à delegacia durante uma abordagem feita pela Polícia Militar.
Sem nenhum motivo que justificasse tamanha agressividade, o docente foi detido e enquadrado pelos policiais a partir de uma ação considerada desastrosa. O professor é amplamente conhecido pelo trabalho que desenvolve no Colegiado de Ciências sociais da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF). A abordagem aconteceu quando ele circulava em sua moto, no bairro do Cruzeiro, em direção ao dentista. Seus pertences foram jogados no chão, o veículo foi apreendido e, ao tentar dialogar com os oficiais passou a ser agredido e intimidado até ser colocado em um camburão.
É de conhecimento público que, na atualidade, Juazeiro possui um dos maiores índices de assassinatos da Bahia. Diante do exposto, é compreensível que as blitze aconteçam como meio de conter este quadro de violência, porém, se faz necessário um discernimento amplo dentro do processo de abordagem da Polícia Militar aos cidadãos, principalmente na periferia, onde a maioria dos trabalhadores reside.Um detalhe neste caso é que o referido professor era negro, como a maioria dos oradores periféricos de nossa idade e de nosso país. Além disso, circulava de moto, veículo que tem sido utilizado de modo corriqueiro para atos ilícitos nas cidades. No entanto, essas realidades não podem servir de justificativas para que todo negro em uma moto seja tratado como bandido.
Recentemente, em entrevista que concedi durante a Marcha da Consciência Negra, em Salvador, fiz questão de mencionar como me preocupa o local que os integrantes das comunidades negras ocupam dentro de relações sociais fincadas no preconceito. “As pessoas propagam que existe democracia racial, quando, na verdade, o principais espaços da sociedade ainda são tomados por brancos. Criou-se na sociedade uma cultura na qual o negro ocupa as páginas de jornais policiais e o branco ocupa os consultórios médicos. Um branco com paletó é advogado ou político, e o negro é segurança”. Como negro, militante, nascido e criado na periferia de Juazeiro, lamento que esta não tenha sido a primeira vez que sou surpreendido por informações ligadas às abordagens policiais que terminam em atos violentos contra a comunidade da periferia. Como presidente do Conselho Estadual de Cultura, tenho defendido que essa lógica precisa ser quebrada. A comunidade deve ser respeitada e acolhida pelas instituições ligadas à segurança pública, afinal, estamos todos com o mesmo objetivo em mente: a redução da violência.
Solicito encarecidamente que haja imediata apuração dos fatos, além da punição de todos os envolvidos neste episódio. Sigo com a convicção de que a gloriosa Polícia Militar da Bahia tem plena condição de formar em sua corporação oficiais com melhor capacidade de compreender o atual processo histórico e social que se vive no Brasil e, em especial, na Bahia. Atuar na segurança pública se torna, cada vez mais, sinônimo de saber como tratar com dignidade e humanização o nosso povo.
Atenciosamente;
Márcio Ângelo Ribeiro
Presidente do Conselho Estadual de Cultura da Bahia
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