Mercado de trabalho

Queda no salário médio de admissão do brasileiro já é maior que na crise de 2009

Novos profissionais estão sendo contratados por um salário 10,7% menor se comparado àqueles que deixaram seus empregos

04/07/2015 às 08h40, Por Andrea Trindade

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A Catho e a Fipe apresentam indicadores que reforçam o diagnóstico negativo do momento atual do mercado de trabalho brasileiro. O salário médio de admissão registrou queda de 1,6% na comparação livre de efeitos inflacionários entre maio de 2015 e o mesmo mês do ano anterior, o que representa um resultado pior do que o que tivemos durante a crise de 2009 nessa base de comparação.

A ‘Pressão Salarial’ média dos últimos 3 meses foi outra que sofreu nova redução, atingindo 0,893 em maio. Isso mostra que os novos admitidos estão sendo contratados por um salário 10,7%menor se comparado àqueles que deixaram seus empregos. Esse movimento de piora nos salários e na pressão salarial é consistente com a piora que é esperada para a taxa de desemprego.

Com esse cenário, a taxa de desemprego nas seis regiões metropolitanas acompanhadas pela PME/IBGE deve ficar em 6,8% em junho de 2015, segundo a projeção Catho-Fipe. Esse valor pode representar a maior taxa de desemprego registrada no Brasil desde julho de 2010 e é 2,0 pontos percentuais maior do que o registrado em junho de 2014. Trata-se do maior aumento da taxa de desemprego em um intervalo de 12 meses registrado em toda a série histórica da PME (iniciada em março de 2002).

Um indicador bastante relevante para o monitoramento do mercado de trabalho é o salário médio de admissão. Por indicar como está a evolução da remuneração dos trabalhadores que iniciam um novo vínculo, tem a qualidade de ser um termômetro mais ágil de variações dos salários do que a média de remuneração de toda a população ocupada.

Em maio, o salário de admissão médio apresentou queda de 1,6% descontada a inflação quando comparado ao resultado do mesmo mês do ano anterior. Ainda que esse resultado não seja o pior que vimos nos últimos meses (em fevereiro a queda foi de 2,1% e em março de 1,5%) é fato que o resultado atual se configura como um número fraco de variação dos salários de admissão.

A comparação dos salários médios de admissão e de desligamento é útil para identificar o grau de dificuldade que as empresas encontram quando precisam contratar novos funcionários. Ou, por outro ângulo, mostra também a condição que os postulantes a novos empregos encontram no momento de negociar seus salários.

A medida é calculada de forma simples: é a divisão entre o salário de admissão médio pelo salário de desligamento médio em um determinado mês, segundo o Caged/MTE. Se for igual a 1, significa que em média os trabalhadores novos estão sendo contratados pelo mesmo salário daqueles que deixam seus empregos. Porém, normalmente, esse valor é menor do que 1, já que os novos contratados costumam ter salários menores que os desligados. À medida em o tempo passa, o vínculo entre a empresa e o empregado se fortalece, e o trabalhador avança na progressão salarial.

Portanto, quanto maior a pressão salarial, maior o ‘aperto’ no mercado de trabalho. Os dados exibidos no gráfico acima mostram a série dessazonalizada da Pressão Salarial para o Brasil desde 2006 em forma de média móvel de 3 meses afim de evitar flutuações espúrias de curto prazo. Durante a crise financeira de 2008-2009 houve forte queda nesse indicador, que voltou a subir em 2010 e atingiu o pico de 0,941 em abril de 2012. A partir de então, lentamente, a pressão salarial apresenta tendência de queda e já está significativamente abaixo da média do período 2006-2015, indicando que o mercado de trabalho está num período menos apertado. Em maio/2015, a pressão salarial livre de efeitos sazonais foi de 0,893, ou seja, em maio o salário médio dos admitidos foi 10,7% menor do que o dos desligados no período.

Ao compilar e processar informações de currículos, anúncios de vagas e de contratações disponibilizados pela Catho, a Fipe calcula uma estimativa para a taxa de desemprego da Pesquisa Mensal de Emprego (PME/IBGE)*. A estimativa da Taxa de Desemprego Antecipada de junho de 2015 é de 6,8%, 0,1 p.p. acima do nível registrado em maio e 2,0 pontos percentuais maior em relação ao mesmo mês de 2014.

Esse deverá ser o oitavo mês seguido no qual a taxa de desemprego fica acima ou igual à registrada no mesmo mês do ano anterior. Não obstante, a tendência de piora segue, visto que a cada mês que passa a distância da taxa de desemprego atual com relação à do mesmo mês do ano anterior aumenta. De fato, o resultado de junho deverá ser o pior registrado em toda a série da PME, que começa em março de 2002. Vale notar também que a taxa de desemprego que esperamos para junho é a maior registrada no país desde julho de 2010

A estimativa da Taxa de Desemprego Antecipada feita por meio da técnica do “nowcasting” utiliza dados disponibilizados em “tempo real” para produzir informações e estatísticas precisas. No caso da Taxa de Desemprego, a Fipe cruza informações obtidas com buscas na Internet (por meio de palavras chave relacionadas a emprego, por exemplo) com informações de vagas, candidatos e contratações da Catho, além de outros dados econômicos e também a própria série da PME dos meses anteriores para estimar a taxa de desemprego do mês corrente. A metodologia completa pode ser encontrada em www.fipe.org.br

* A Taxa de desemprego do IBGE é calculada com base na Pesquisa Mensal do Emprego (PME), que abrange seis regiões metropolitanas: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador. 

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