Feira de Santana
Pais de Santo falam sobre religiões de matriz africana em Bonfim de Feira
Segundo eles, nem todas as linhas da Umbanda trabalham da mesma forma.
16/09/2014 às 16h45, Por Kaio Vinícius
Acorda Cidade
Com aproximadamente 4 mil habitantes, o distrito de Bonfim de Feira, localizado a cerca de 35km da sede Feira de Santana, chama a atenção pela predominância das religiões de matriz africana. De acordo com o professor e babalorixá, há 14 anos, Josué Barbosa de Jesus, 42 anos, existem atualmente cerca de 8 terreiros na cidade.
O babalorixá, também conhecido popularmente como Pai de Santo, explica que a função dele dentro da religião de matriz africana é obedecer primeiramente a Deus, ao seu orixá, e à conduta de atender as pessoas, seja qual for o problema, e que estiver ao seu alcance.
Segundo ele nem todas as linhas da Umbanda trabalham da mesma forma. “Nem todo tacho que está em uma encruzilhada é um feitiço. Muitas vezes, um trabalho é feito na linha do azeite, que é pra trabalho de descarga mais profundo, e esses trabalhos são, na maioria das vezes, feitos em cachoeiras, em estradas, encruzilhadas, em beiras de rios e em beiras de matas. O que prega minha religião é o conselho, o amor, o perdão, uma ligação com Deus no mundo espiritual com os santos, que são os orixás.”
Nelson Lopes dos Santos, 40 anos, conhecido com Pai Tim, é dono do terreiro Centro Iogum, localizado no mesmo distrito. Ele afirma que a religião de matriz africana ainda é muito discriminada pela sociedade. “A gente tem filhos de santo que estudam e sofrem discriminação por serem do candomblé. Dentro do candomblé não existem demônios, existem orixás, caboclos, que são espíritos de luz”, disse.
Ele citou ainda alguns nomes de caboclos conhecidos pelos frequentadores da religião. “O caboclo Boiadeiro é responsável pelo remédio, pelos banhos de ervas, por alguns trabalhos de pessoas que vem precisando. O Oxóssi Caçador é responsável por pegar os jovens, pais de família, para dar orientação espiritual, e por ele ser envolvido nas matas, ele é muito envolvido com plantas medicinais. O caboclo Pena Branca é o índio. Ele é um caboclo que no centro ele não trabalha, ele só se apresenta nos tempos de homenagens a outros caboclos. A cabocla Jurema é responsável pela bebida. Ela ordena quais são as raízes das plantas e as cascas das árvores”, exemplificou o Pai de Santo.
Segundo Pai Di existe uma preparação para receber as entidades. “A gente se desliga do mundo pra ligar só a Deus e aos orixás. Eu recebo o caboclo Boiadeiro, Oxóssi Caçador, Iansã, que é minha mãe, e Ogum de Ronda, que também é o dono do meu Ori”, afirmou.
Para o padre Luiz Carlos, que foi nomeado para trabalhar em Bonfim de Feira há 5 anos é necessário existir o respeito entre as religiões. “Eu quando fui nomeado pra trabalhar nesse distrito já sabia que tinha esse desafio, mas eu procurei buscar o diálogo e o espírito de respeito, não só com o Candomblé, mas também com outras religiões. Eu gosto sempre de relembrar o lema do nosso pastor Dom Itamar: ‘Somos todos irmãos’, ressaltou.
As informações são do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.
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